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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O Juramento da Sacerdotisa


Que eu seja como a que tece o pano na floresta, profundamente escondida.

 Que eu possa fazer o meu trabalho sem interrupção. 

Que eu seja uma exilada, se este é o sacrifício. Que eu conheça a procissão sazonada do meu espírito e do meu corpo, e possa celebrar os quartos em cruz, solstícios e equinócios. 

Que cada Lua Cheia me encontre a olhar para cima, nas árvores desenhadas no céu luminoso. 

Que eu possa acariciar flores selvagens, cobri-las com as mãos.

 Que eu possa libertá-las, sem apanhar nenhuma, para viver em abundância. 

Que meus amigos sejam da espécie que ama o silêncio.

 Que sejamos inocentes e despretensiosos. Que eu seja capaz de gratidão. 

Que eu saiba ter recebido a alegria, como o leite materno. 

Que eu saiba isso como o meu gato, no sangue e nos ossos. 

Que eu fale a verdade sobre a alegria e a dor, em canções que soem como o aroma do alecrim, como todo o dia e na antiguidade, erva forte da cozinha.

 Que eu não me incline à auto-integridade e a auto-piedade. 

Que eu possa me aproximar dos altos trabalhos da terra e dos círculos de pedra, como raposa ou mariposa, e não perturbar o lugar mais que isso.

 Que meu olhar seja direto e minha mão firme. Que minha porta se abra àqueles que habitam fora da riqueza, da fama e do privilégio.

 Que os que jamais andaram descalços não encontrem o caminho que chega a minha porta.

 Que se percam na jornada labiríntica. 

Que eles voltem.

Que eu me sente ao lado do fogo no inverno e veja as chamas brilhando para o que vier, e nunca tenha necessidade de advertir ou aconselhar, sem que me peçam. 

Que eu possa ter um simples banco de madeira, com verdadeiro regozijo.

Que o lugar onde habito seja como uma floresta. 

Que haja caminhos e veredas para as cavernas e poços e árvores e flores, animais e pássaros, todos conhecidos e por mim reverenciados com amor.

 Que minha existência mude o mundo não mais nem menos do que o soprar do vento, ou o orgulhoso crescer das árvores. Por isso, eu jogo fora a minha roupa. 

Que eu possa conservar a fé, sempre!

 Que jamais encontre desculpas para o oportunismo.

Que eu saiba que não tenho opção, e assim mesmo escolha como a cantiga é feita, em alegria e com amor. 

Que eu faça a mesma escolha todos os dias e de novo.

 Quando falhar, que eu me conceda o perdão.

Que eu dance nua, sem medo de enfrentar meu próprio reflexo.

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